segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Adentrou o gigantesco portal, com seus adornos em alto-relevo e as infinitas marcas que haviam sido riscadas neles através das eras. As marcas eram tantas quanto as cicatrizes em seu corpo e as mondrongas figuras grafadas em ferro frio faziam uma estranha alusão ao seu rosto. Sentia com leveza os olhares de seus dois companheiros e com mais força a carga dos olhares daqueles que haviam se sacrificado para que aquele momento ocorresse. Havia também o fardo dos anos que aos poucos tiraram-lhe companhias, pedaços, amores. O maior peso talvez fosse o das lembranças de sua jornada, sua vida.

Nada daquilo conseguira parar sua determinação e derrubar sua vontade. Haviam sido milhares de kilômetros, milhões de lugares, incontáveis passos. O momento mais atormentante havia sido transpor as escadarias, vidas inteiras haviam começado e se acabado para transpô-las.
Chegou ao topo da torre, prostrou-se vagarosamente e parou por muito tempo. O próprio tempo havia parado. Alcançar sua utopia, seu onírico desejo, era um golpe forte demais para resistir em pé. Em seu momento extático, lembrou-se de absolutamente tudo que sua mente foi capaz de guardar. Organizou tudo em seu lugar. Era possível ouvir o som de planetas se movimentando.
Descerrou os olhos e com o ímpeto que o levou até lá, sentiu a frieza dos portões e rasgou o silêncio com um brusco movimento, capaz de abrir qualquer porta do mundo. Tragou o ar para os pulmões e pôde avançar com com toda segurança e com a maior desconfiança de sua vida.
Olhou para fora e viu. Lá estava a trilha na qual seguira. As cidades pelas quais passou. O local de onde iniciou sua jornada. Além mais, havia outras cidades, países e reinos. Mas isso era só o início, pois ali estava o mundo, muito pequeno perto de outros que vinham depois. Lá estava o universo. Tudo.

Olhou para os companheiros ao seu lado, expressando esperança e felicidade que dominavam a expressão de cansaço antes presente. Com um largo movimento do braço, enfim disse:
- Além disso, nada mais existe.
Girou a capa sobre o corpo, chamou os amigos e partiu.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial

Copyright Deborah Happ 2008